quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

DONA ROSA MARIA


Dona Rosa Maria
Naquele Dia
Não quis ir ao cafezal

Usava um vestido
Estampado
Com lindas hélices

Saiu de sua cozinha
Apanhou a chave da porta
Desligou a campainha
E fechou o registro do gás

A prole na escola
O marido na boleia
Do caminhão indo pra roça
Mas ela... não queria
Lavar a louça

Vigiou ... vigiou!
Fez um exame da rua
Encenou um sorriso brejeiro
E com a proeza
De seus quarenta anos
Arrumou o broche
Antes de por o xale
E apertou o cinto
Meio frouxo

Lembrou-se mais uma vez
Da enxada e da vassoura
Mas refletiu no passeio
Pela cidade
E inchando as bochechas
Soltou um "suspiro" de alívio

Olhou de relance
Um quadro na parede
Era o retrato da Virgem Maria
Então pensou
Naquela sacrossanta vida
E uma ânsia lhe invadiu o interior

Saiu!
Pôs-se a caminhar através da via
Apertou a bolsa
Entre o ventre e o braço
Apressou os passos
Pela escassez do tempo
E assumindo
Uma atitude de majestade
Mudou os gestos costumeiros
Silenciando as próprias dúvidas

Pressentiu então o momento
Em que estaria à mercê
Dos ardentes carinhos
De seu amante Luís
Um homem de cabelos ruços
Que fumava charutos caros
E vestia ternos de linho

Que a esperava de praxe
No pátio arborizado e colorido
Da praça principal...

Gigio Jr (Poemas da Meia Idade–2002)

Um comentário:

Fermina Daza disse...

Confesso: Esse é um dos meus favoritos. rsrs

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