domingo, 30 de janeiro de 2011

Soneto de Quem Ama


Silêncio e esperas, sinais de quem ama.
Brotam nas flores muitos corações,
Das primaveras que acendem as chamas:
Sonhos e cores, moças e maçãs...

Surgem fervores, vibram sensações
Do amor de Hera, que assanham tramas,
Fortes tremores – noites e manhãs
E outras quimeras florescem das gramas...

Luas e estrelas – luz da escuridão,
Tardes eternas nas sendas das vidas,
Sombras e velas, beijos da paixão.

Teima o arrebol. Declinam-se, em ardores,
Braços e pernas - lágrimas vencidas.
Ao Pôr-do-sol - amantes, mar, suores...

Gigio Jr (Poemas & Palavras - 2007)

sábado, 29 de janeiro de 2011

VEM LIBERDADE

Vem liberdade qual a luz do dia!
Ajuda-me a escrever este soneto.
Eu sei que tu me lembras a judia
Criança, assassinada em triste gueto...

Do caos da escuridão nasceu teu feito:
Lutas contra a história longa e fria...
Não! Para as mortes negras em Soweto,
Não! Somália da fome e tirania...

Vem liberdade diz os teus segredos!
Livra-nos dos grilhões dos egoísmos,
Por onde plantamos tantas guerras...

Que teu mundo de paz apague os medos
De nossos corações, ante os abismos
Do mal a debater-se em nossas terras...

Gigio Jr (Poemas da Meia Idade-2003)

O PADRE E O MENDIGO


O sino bate... A Igreja se aventura
Em resgatar o Mestre redivivo...
João mendigo, perto da escultura
Do Senhor, xinga o padre Benedito!

Brada ele sem perdão: - “Padre maldito
Pára de rezar, sai dessa clausura...
A mulher que te quer tem te erigido
Em noites distraídas de censura...”

Sabe o padre de fé que é sim Letícia,
A dita cuja que o pedinte infama
Sem medo de ser alvo do exorcismo...

Então com o ar dum santo ...um tanto bicha,
O padre pensa os beijos da mundana,
Professora de um outro catecismo!...

Gigio Jr (Poemas da Meia Idade - 2004)

POEMA DO OCASO


Partiste!
E a luz da tarde
Contigo vai...

Risca a noite
A Dalva...
Em minha alma a
Estrela cintila!

Partiste!
No ocaso de cada vida
Meu porto
Acena um farol...

Ei-me em brisa
E o mar maresia
Os olhos da distância...

Horizontes de
Meus medos,
Versos
De nuvens,
Da escuridão...
Trejeitos
Do poema
Nas ondas
Da perdição...

Partiste!
Ah solidão...
Saudade...
Contigo foi-se
A inspiração...

Enquanto,
Talvez,
E ainda que o arrebol
Persista:
Quero-te mais uma vez!

Derradeiramente
Sonho...

Passageira é
A gaivota dos meus voos.
Madrugam-se-me
As cordilheiras...

E tão distante o amor
Que te alcança...

No orvalho de
Teus beijos
Eu anunciei
Minha noite...

Partiste!
Vais...
Levam-me
Tuas trajetórias...

Ah... quantos
Desejos
Anseios...
Vibram na
Rútila espiral de tua aura...

Ah... quero-te mais uma vez!

Nas mãos
Escorrem as linhas
Do arco-íris.
Mas deixas eu por a luz
Nos teus olhos de amor
Incondicional...

Dalva
Dos meus sonhos
E caminhos...
Estrela da manhã,
Que deixaste o alvorecer
Azular os meus destinos...

Gigio Jr (Poemas da Juventude-1990)

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

LUZ


Luz

Mulher
Pérola
Livre

Nudez
Alma
Vida

Desejo
Intocável
Interminável

Sempre
Suave
Eterna

Você
Despida
Luar...

Sorriso
Volátil
Fugaz

Menina
Auréola
Amor

Brilha
Olhos
Mel

Chora
Vibra
Céu

Mas
Luz
Rosas

Azuis
Sonhas
Auroras

Manhã
Aroma
Beijar...

Gigio Jr (Poemas & Palavras - 2005)

NOVE HAIKAIS


1.
Vem ventando o vento
Na vida que é vã vivida
Com um cata-vento!

2.
Tudo tem seu tempo
Tépida tarde tecida
Por um passatempo!

3.
No mar dos cantares
Meu dia zarpou alegrias
Cantei sete mares!

4.
No farol do porto
Não há mais as luminares
Do nosso deporto!

5.
Tardes na baia...
A cor do sol de teu corpo
Vem e me assedia!

6.
No porto o farol
Aos mares dos teus cantares
É sol do meu corpo!

7.
O amor é uma luz
Na aura das auréolas várias
De cores azuis!

8.
A alma é uma chama
Quando as luzes nos estampam
Os bilhões de estrelas!

9.
A vida é um triz
Quando as estrelas das almas
No além se prolongam!

Gigio Jr (Canções – 2007)

YASMIN


Olha-me ternamente, Yasmin!
Em mim derrama, como antigamente,
O sabor perfumado e consistente,
De teus lábios tão doces e carmins...

Toca-me mansamente, amor, ...assim!
Desejo sim te amar intensamente,
Sempre!... Do início do meu beijo ardente
Ao teu fremente orgasmo, sem pôr fins...

Ama-me!... Amo-te continuamente,
No infinito do meu coração quis
Guardar nossos carinhos e momentos...

Quis que os dias do meu amor contente,
Não se esgotassem da paixão feliz,
Que regavas com puros sentimentos...

Gigio Jr (Novos Poemas – 2007)

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

A LOUCA

A Praça da Sé é o local onde ela habita,
Mísera mendiga acuada no desencanto.
Sinto o meu peito arder ao seu dorido pranto,
Que a populaça escuta, desdém e até evita...

“- É louca, é velha, é pedinte, é maldita!”
Cismam todos, ao vê-la, sem nenhum espanto.
E eu passo e a vejo imponente num sujo manto,
Que a coitada agarra no estertor que lhe agita...

Percebo que ela conversa com o vazio:
Resmunga, aponta, vocifera e enfim implora
Como se visse um monstro que lhe apavora...

E sensitivo escuto estranho vozerio:
“- Rainha assassina!”. Acusam-na, sem perdão,
Almas já mortas que a perseguem em legião!...

Gigio Jr (Poemas da Meia Idade–2006)

ROMANCE DO MÊS DE MAIO


Os teus abraços, nos meus rumos, são desmaios;
E o teu adeus, no meu deporto, os altos-mares.
Vais fugindo com os meus sonhos e luares,
E eu com os dias de outono do mês de maio...

O teu amor... são noites quentes de meus cantares
E o teu fogo... os meus árduos versos e ensaios.
Vou beijando-te para que meus sóis, em raios,
Penetrem os teus íntimos prantos e altares...

Vens sufocar-me num romance já escrito,
Onde os poemas são canções em que transito,
Ante os teus olhos refletindo os deuses vagos...

O teu aroma... excita-me novo desejo,
Pelos campos e rios, aonde eu despejo
As magias das flores de teus lábios magos!...

Gigio Jr (Novos Poemas - 2007)

LUGAR DAS CRIANÇAS


Existe um lugar que é só das crianças
Onde as cores da vida são mais vivas
E a música mais alegre e as esperanças
De ser feliz são luzes efetivas

Há nestes mundos de claras nuanças
Imensas realizações criativas
Sonhos e ideais - a paz das bonanças
De almas vibrantes e caritativas

Anjos que nos são lindos corações
Velando pela infância como estrelas
Cheias de um Amor sincero e profundo

Crianças a cantarem as canções
Dos poemas do Bem como as serenas
Flores perfumando o nosso mundo

Gigio Jr (Poemas da Espiritualidade-2005)

SONETO DO ENAMORADO


O afeto que você sente por mim
É pétala da mais pura amizade,
Mas pode florescer também ...e assim,
Do desejo d’eu amá-la de verdade...

- “A amizade distancia-se do amor!”,
Afirmam sábios da realidade...
Contudo, minha amiga, este fervor
Febril por você... é proximidade!...

É ternura aqui perto e lá distante,
É paixão para lúdicos caminhos...
E é prazer aos teus olhos tão brilhantes...

A minha amizade é amor gritante...
Sina de mão sagrada onde carinhos
Plantaram os amigos e os amantes!....

Gigio Jr (Poemas da Meia Idade–2002)

domingo, 23 de janeiro de 2011

BEM DE PERTO


Bem de perto quero rever teus infinitos:
Troquei os meus dois óculos ontem à tarde!
E, vou num otorrinolaringologista,
Cuidar dos meus ouvidos e da minha voz...

Bem de perto quero ouvir os teus gemidos,
E longe da igrejinha onde reza o padre...
E cantarei e dançarei como um anarquista
Um rock - um jazz - um blues ou até um fox-trot...

Bem de perto quero rir e somente rir...
Pra ti, oh vida, que nos foste um disparate;
Loucos que enlouquecemos mais a cada dia...

Então, sairei embriagado pelas ruas,
Em cruzamentos com as minhas avenidas,
Aos teus instintos e anseios de musa nua!...

Gigio Jr (Poemas da chuva – 2005)

NOITE

Sedutora
Invasora
Perspicaz
Latente

Mulher Despida

Olhar
Sensual

Morena
Vadia
Um grito
Gemidos

Suor de Espera
Gozo
Perfídia

Glândulas
Afrodisíacas
Deusas

Pele da Lua
Flores Vermelhas
Corujas
Olhar de Estrelas

Odores
Sentidos

Sonhar
Uma - Duas
Três Vezes

Astros e filmes

Desejos

Ser Estar Sentir
Gritar Dançar Despir
Tatear Beijar Rir
Sorrir

Gentilmente Invadir

Como uma garoa fina
Serena

Gigio Jr (Poemas & Palavras 2005)

SONETO URBANO


Ruas aonde sangram as palavras surdas
Movidas por carvão nos rumos das sentenças
Calçadas onde pisam as versões absurdas
Estribilhos, provérbios nas frases propensas...

Muram-se em canções as poesias de petróleo
Sinaleiros...viadutos ...túneis de argumentos
No poema triturado embevecido em óleo
Às cidades sob trilhos de chacais violentos...

Megalópole das gírias neo corcundas
Multiformes visões das rimas eletrônicas
Periferias hip hop em dores profundas...

Velório das distâncias rítmicas e fônicas
Ceias de imagens e sílabas oriundas
Das massas grafitadas sem métricas tônicas...

Gigio Jr (Poemas da Chuva - 2004)

COM VIOLETAS


Penso na nossa vida e escrevo o tempo...
Livro - destino meu que se fragmenta.
Venta aonde o caminho movimenta,
O que a alma retém como passatempo...

Esvaem-se as horas, fica o tormento
Que, minuto a minuto, se sustenta
Entre a luta vital, mais truculenta,
E a paz serena de meu sentimento...

Penso nas dores do meu contratempo,
As rimas nascem, crescentes e sedentas,
E onde há um adeus – tocam-se trombetas...

Sei da minha agonia... apraz-me o vento,
E das entranhas e sinas violentas:
A poesia vestida com violetas...

Gigio Jr (Novos Poemas – 2007)

PAIXÕES E MARÉS


As ondas batem nas praias ...cismam as areias!
Tal como o meu amor nos teus abraços ardentes,
Marulham minhas rotas em tuas correntes:
- No alto mar da paixão sagram as minhas veias...

As marés buscam os litorais que tu recreias...
Onde te acaricio com minhas garras e dentes,
Os meus carinhos, beijos e sonhos ferventes
Mergulham nas profundezas de tuas teias...

As espumas mancham o teu corpo que se agita
Ao toque de meus lábios e dos meus amplexos,
E assim o amor é luz de sol nos nossos sexos...

Barcos zarpam... ...Um gozo às quebras regurgita...
Gritos e haustos de prazer tingem a tarde,
Eclosão de nosso clímax, que explode e arde...

Gigio Jr (Novos Poemas – 2007)

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

SINAIS


Sinal de mar
Na praia azul
De teu olhar

Sinal de sal
Na cor serena
De teu olhar

Quando chegar
A vez enfim
Então irei...

Amar teu mar
E retornar
Com o Sol-manhã

Sinal de dar
Em teu calor
O meu amor

Sinal de sim
Em tua cor
Cor da manhã...

Gigio Jr (Poemas da Juventude-1985)

SAL


Sol
Sou Só
De Adão

Sol
Sou Sinal
De Sal

De
Solidão
Sólido

Gigio Jr (Poemas da Juventude-1982)

domingo, 16 de janeiro de 2011

A UM PALMO


A um palmo
Da testa
De todas as testas
Não há festas

Milímetro a milímetro depois
Do corpo
De todos os corpos
Não há mortos

Há espíritos
Muitos espíritos
De todos os portos
De todas as terras

Há vivos
Da alma
De todas as almas
Bravas ou calmas

Um mundo
Complexo
Com os dilemas dos sexos
Sem ordem ou nexos

A um palmo
Da vida
De todas as vidas
Não há despedidas

Mudamos
De rua
E a morte se mata
Cai morta e nua
Porque a alma se
Perpetua

Gigio Jr (Poemas & Palavras - 2005)

A NOITE VEM!


Quando amanhece a luz de teus brilhantes
Olhos, errantes sobre os meus caídos...
Então vívidos, fulgem excitantes,
Amores dantes tão despercebidos...

Enlouquece-te arquejos delirantes,
De dois amantes, pelo amor, vencidos;
Embevecidos em paixões gritantes,
Que reinantes nos fazem dois perdidos...

Quando entristecem tardes desmaiadas,
À desmanchada cama onde desejo
Cobrir-te em beijos, como os que te assanham:

A noite vem... com ruas estreladas,
Enluarada e cheia, onde antevejo
Um murmurejo aos gozos que nos banham...

Gigio Jr (Novos Poemas - 2007)

sábado, 15 de janeiro de 2011

CONSTANTE ADEUS...

A vida é sim um constante adeus.
Quem vive vai partindo – vai embora,
Vai pelos caminhos de cada hora
Semeando os passos, os chãos e os céus...

Eu vou como a metáfora sonora.
Nas matas ouço os pássaros de Deus,
No abismo do mar zarpo os mares meus,
E esqueço a noite quando vem a aurora!

É assim que viajo como os vates mortos,
Depois de cada sonho sei dos portos,
E atraco as ilusões no esquecimento!

Nem às odes, às rimas, ou canções,
Sequer o adeus pergunta aos corações,
E, venta em vida um versejar do vento...

Gigio Jr (Canções – 2009)

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

EM VENTANIAS


A embarcação embala-me entre espumas...
Faço força, façanha e faço figas.
Meus mares moldam, muram e mergulham,
Aonde ancoram ânforas antigas.

Respiro as rotas, rumo onde tu rumas,
Passo antepasso, penso o que periga...
Colho as centelhas dos céus e as centúrias
Banham, em becos, bocas já benditas.

Osculo as orlas e ondas d’oriente
Jorram em jactos jugos da nascente;
E a sequiosa súcia silencia...

Terras de templos! Terras temerosas!...
Destino os meus dons em naus dolorosas;
E o vate vem... Vagueia... Em ventanias...

Gigio Jr (Novos Poemas – 2008)

DA LUZ DOS SONHOS


Vimos de lá, (irmãos), da luz dos sonhos,
Para que os céus azuis se desenhassem,
Com estrelas de mundos mais risonhos,
Com sementes de vidas que vingassem...

Vimos de lá alegrar solos tristonhos,
Para que mares bravios se espraiassem,
E o Sol brilhasse nos dias medonhos;
E serras e campos se embelezassem...

Somos dos Infinitos, somos Deuses,
Com os filetes de milhões de lágrimas
Para a criação de rios e peixes...

Como Anjos que não falam, só beijam:
Perfumamos a Terra com as páginas,
Das flores do amor que em nós vicejam!...

Gigio Jr (Canções – 2008)

domingo, 9 de janeiro de 2011

DAS JANELAS


Suaves as canções - Olhos nos vidros
Das alturas dos sonhos e esperanças...
Vadiam nos jardins padres antigos
E das janelas riem as crianças...

Suaves as rimas - Longos telhados!
Alegrias de trêfegos pardais,
Atingem os sorrisos e os quintais,
Aos sinos da abadia silenciados...

Lá, do lado de dentro, há quartinhos,
Gaiolas que segredam passarinhos
Que esperam as reais libertações!

E, as notas rolam pelos corredores:
São crianças que os pássaros cantores
Ensinaram suavíssimas canções...

Gigio Jr (Canções – 2008)

UM POEMA


À Lis (07.04.1984)

Verdes são teus olhos verdes...
Com a luz da Primavera,
Fitos ficam na janela...
Onde fito com saudades,
Como os mares no deleite...
Ao teu voo de gaivota.

Verdes são teus olhos verdes...
Alcançando mil alçadas,
Não alcançaram calçadas...
Onde eu ando a procurar-te,
(Por lembrar e te querer)...

Primavera me procura,
Ou me deixa no sonhar...
Como as ondas que rebentam,
Relegadas pelo mar...

Gigio Jr (Poemas da Juventude–1984)

SERENAMENTE


Serenamente
Um sol suave
Semeia a luz
Segreda a fonte
Fermenta a rocha
Lampeja o azul

Serenamente
Um sol suave
Reforça o som
E meu silêncio
Secreto canto
Não se traduz

Serenamente
Um voo no despertar

Gigio Jr (Poemas da Juventude-1980)

MIRO O MAR


Miro o mar
Os olhos escorrem vivos na luz das ondas
A praia escolta as águas douradas por espumas
E as ânsias de nossas idas e voltas...

Miro o mar
A luz do Sol num embarque lúcido reluz o distante...

Longe os extremos desejos e o horizonte
Caminhos que haveremos de percorrer
Com sinais de amor nas palavras...

Miro o mar
E enquanto o azul guarda os seus mistérios
Cresce nossa voz de espuma nas areias...

Gigio Jr - (Poemas da Juventude-1980)

AOS VENTOS


A voz do vento venta as vozes, viva,
Às margens mansas de marés morosas,
Barcos banham-se com bandeiras brancas,
Rompendo os rumos, as redes e as rotas...

A luz da lua, lépida e (lasciva),
Povoa os portos - pescas predadoras,
Enquanto esgotam-se essências estranhas,
Nas ondas orquestradas e opressoras...

A voz das margens banha-se de rosas,
Levando perfume, estrelas e olhares
Onde estremecem os pactos lendários...

Rumos de barcos nas manhãs viçosas,
Olores exalam-se – Prisma e luares
Aos ventos ...mares, brisas e rosários...

Gigio Jr (Novos Poemas-2007)

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

POEMAR


Teus cabelos:
Espumas ruivas pelo tempo manchadas

Teus olhos:
O brilho verde em suma formosura

Teus lábios:
As águas feiticeiras e salgadas

Teus amores:
Os marinheiros que te agarraram
No banho imortal de essências náufragas...

Gigio Jr (Poemas da Juventude-1982)

DONA ROSA MARIA


Dona Rosa Maria
Naquele Dia
Não quis ir ao cafezal

Usava um vestido
Estampado
Com lindas hélices

Saiu de sua cozinha
Apanhou a chave da porta
Desligou a campainha
E fechou o registro do gás

A prole na escola
O marido na boleia
Do caminhão indo pra roça
Mas ela... não queria
Lavar a louça

Vigiou ... vigiou!
Fez um exame da rua
Encenou um sorriso brejeiro
E com a proeza
De seus quarenta anos
Arrumou o broche
Antes de por o xale
E apertou o cinto
Meio frouxo

Lembrou-se mais uma vez
Da enxada e da vassoura
Mas refletiu no passeio
Pela cidade
E inchando as bochechas
Soltou um "suspiro" de alívio

Olhou de relance
Um quadro na parede
Era o retrato da Virgem Maria
Então pensou
Naquela sacrossanta vida
E uma ânsia lhe invadiu o interior

Saiu!
Pôs-se a caminhar através da via
Apertou a bolsa
Entre o ventre e o braço
Apressou os passos
Pela escassez do tempo
E assumindo
Uma atitude de majestade
Mudou os gestos costumeiros
Silenciando as próprias dúvidas

Pressentiu então o momento
Em que estaria à mercê
Dos ardentes carinhos
De seu amante Luís
Um homem de cabelos ruços
Que fumava charutos caros
E vestia ternos de linho

Que a esperava de praxe
No pátio arborizado e colorido
Da praça principal...

Gigio Jr (Poemas da Meia Idade–2002)

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

ANDARILHO


Passo perto das terras poeirentas,
Pisando as pedras com os pés em bolhas;
Sertanejo os chãos secos... E sem folhas,
As árvores me agonizam sedentas...

Rios sem caudas ... Vias sem escolhas,
Sol a pique ...virão horas sangrentas;
Vivo de ventos que teimam nas ventas,
E nos cachos das têmporas são trolhas...

Rezas e as cruzes ... cactos e os abutres
Rodeiam rasteiramente os meus rastros.
Lua e Sol ... Sol e Lua – Quem sois astros?...

Fendas no sertão dos delírios fúteis:
Oh cachoeiras, rios, lagos ...mares;
Chuvas nublando os céus de meus andares...

Gigio Jr (Novos Poemas–2007)

A MENINA


O corpo da menina caído ao chão...
Estava hirto, sujo, roxeado e gélido.
A turba o rodeava com expectação,
Ansiosa pela presença de um médico...

Mas a manhã, de sol ameno - pouco angélico,
Com a vã morte dera tamanho encontrão;
E espalhara um adeus, adeus dum deus céptico,
Servo da inércia ativa em cada cidadão...

O corpo da menina, filha das misérias,
Acostumara-se com a falta de pão;
E a sua alma com o mundo da solidão...

Oh Vida! Que povo era aquele sem artérias,
Olhando a morta, que sem nome nesta vida,
Estava lá no chão, na sarjeta estendida?...

Gigio Jr (Poemas da Chuva–2005)

O QUADRO


Olhava o quadro torto na parede...
Retratava as marés vencendo os barcos;
E os pescadores nus puxando as redes
Quase vazias dos cardumes parcos...

Uma angústia, intensa como a sede,
Rompeu entre torturas os meus marcos;
E, em vasta compulsão de quem se excede,
Ajeitei o quadro às leis de meus arcos...

Suspiro e alívio - lídima obra reta...
Cura aparente de minha agonia,
Ansiedade profunda que se aquieta...

Os bravios mares contra a calmaria,
As embarcações teimam novas pescas:
Minh’alma navegada por fobias...

Gigio Jr (Poemas da Meia Idade–2005)

domingo, 2 de janeiro de 2011

NÁUFRAGO


Nas areias de nossas praias planas,
Embarcações, dos tempos de carinhos,
Estão aportadas com os nossos sonhos,
Com os tesouros de tantos caminhos.

Quantas recordações, brisas insanas,
Que me atormentam e revejo os ninhos
De albatrozes felizes, e os medonhos
Penhascos se me tornam pequeninos.

Velejo... sou náufrago de teus beijos.
As cartas desenharam tempestades...
Mares: dura existência de despejos.

Solitário, avisto as dunas e o pôr
Do Sol, a perder de vista as cidades,
Remando com a ausência de teu amor...

Gigio Jr (Novos Poemas - 2007)

SOL E PRIMAVERA


Teu olhar de felina
E uma flor nos teus cabelos
Primavera e Sol...

Flor na cabeceira
Tua pele cheira à sal
Luz da Lua-cheia

Toda nua a flor
Às rosas nos roseirais
Perfumando as cores...

Paixões e Marés
Conduzem tua nudez
Sol e Primavera...

Gigio Jr (Novos Poemas – 2007)

ANITA


Pela tarde irei sentar no banco
Daquela praça que possui o teu nome
Onde árvores - flores - pombos brancos
Retratam o teu amor que me consome...

Se alguém vier sentar perto de mim
Não quererei saber ou ver quem é...
Porque na praça só vou com um fim
De cheirar cravo - canela e café!...

Não adianta se for mulher bonita
Nem se a noite - a cor de sua pele
Nem se negros - as cores de seu olhar...

Porque na praça só quererei Anita
Mesmo que o pôr-do-Sol nunca a revele
Nas horas de amor cheias de luar...

Gigio Jr (Novos Poemas – 2007)

MENINA DO PORTO (HAIKAIS)


1.
Beijei os teus olhos
Como se fosse a mais linda
Menina dos portos...

2.
Mordi os teus lábios
Como se apanhasse as uvas
Maduras dos cachos...

3.
Suguei teus seios
Como uma fruta batida
Com leite no meio...

4.
Toquei tuas vulvas
Como se veludas mãos
Tocassem violões...

5.
Suei com festejos
Como se sem pejo o amor
Sangrasse os desejos...

6.
Ah entardeci!
Quando desmaiaste nua
Com sonhos de lis...

Gigio Jr (Canções – 2007)

sábado, 1 de janeiro de 2011

AS CHUVAS DE JANEIRO


As chuvas de janeiro, nas janelas
De meus poemas ébrios e inconstantes,
Loam os lagos, os rios, os mares
E as lágrimas da minha solidão!...

As nuvens troam... fixam pelas manhãs,
Lavam as rimas, trôpegas e boêmias,
Em minhas mãos reféns de hieróglifos,
No hiato da loucura co’a paixão...

Ruam as enchentes com meus delírios,
Carream e deságuam um desamor...
- Adeus! Adeus... Trovas do coração!...

As chuvas de janeiro demasiam,
Vicejam meus campos d’outras poesias,
Inundam meu mar de sofreguidão...

Gigio Jr (Canções – 2008)

POEMA DAS MINAS

Nasci no vale, longe do teu mar...
Serras peraltas são inconfidentes;
E nas montanhas vivem os meus ais...

Cresci dentro das matas irrequietas,
Nas terras novas das minas gerais...
Meus versos são os cantos dos pardais!

Colhi onde as corredeiras imortais
Surgem do coração de antigos rios;
E penetram nas lendas dos plantios...

Moro onde as ruas têm longas subidas,
Onde os morros são sempre bandeirantes,
E as esperanças miram-se pros céus...

Sonho como os teus poetas: Liberdade!
Minas de ouro-pretanos sem idades,
Que em rimas vivo, graças ao Bom Deus...

Gigio Jr (Canções – 2008)

ASSOVIA O VENTO


Assovia
O vento ... avia
À volta da vida
A flor!

Viravolta
A abelha beija
À tarde em cor
É brisa no mar...

O milagre
O pólen parte
Invade outra flor...

O vento
Avisa a abelha
Um cheiro de brisa do mar
Na manhã seguinte
É tarde... Luar!...

Gigio Jr (Poemas da Juventude-1985)

ORIGEM


Vim do rio que nasce em outras margens
E corre por detrás de nossas vidas
Vim - Como as almas simples vêm vestidas
De caminhos - incertas das vantagens...

Aos novos rumos ... sonhos e viagens...
Encontro com raízes esquecidas
Meus elos de mistérios e investidas
Assumem outros ares e paragens...

Vim das orlas ... dos seixos ... das pescadas
E das sinistras forças das enchentes
Que sangram d'outras terras alagadas...

Terras onde planejo os meus presentes
Às sinas que me expõem nas madrugadas
Traçando minhas vidas diferentes...

Gigio Jr (Poemas da Chuva – 2003)
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